domingo, 6 de dezembro de 2009

HOMEM DE DEUS

O profeta Elias é conhecido como “homem de Deus” (1Rs17,18.24; 2Rs1,9.11.13). Não de qualquer Deus, mas de Javé, o Deus do povo, Deus vivo e libertador, o Deus da aliança. O lema de Elias, a sua marca registrada, era: “Juro por Javé, Deus de Israel, a quem sirvo”. É com esta frase que ele entra na história do povo e se apresenta ao rei (1Rs17,1; 18,15). Elias permitiu que Deus tomasse conta de sua vida: a palavra de Deus vinha até ele e o levava a agir (1Rs 17,8.24;18,1;19,9.15;21,17.28); o anjo de Deus o animava e o orientava (1Rs19,5.7; 2Rs1,13.15); o Espírito de Deus podia dispor dele e arrebatá-lo a qualquer momento para os serviços mais imprevisíveis (1Rs18,12; 2Rs2,16); a mão de Deus vinha sobre ele e o fazia correr mais depressa que o próprio rei (1Rs18,46).
Esta experiência tão profunda de Javé, o Deus do povo, capacita Elias a perceber e a desmascarar a falsa imagem de Deus divulgada pela religião do rei (1Rs18,27) e a ser para o povo a revelação do Deus vivo e verdadeiro (1Rs18,39), a ponto de se falar no “Deus de Elias” (2Rs2,14). Elias não age por interesse próprio. É o zelo pela causa de Deus que o empurra (1Rs19,10.14). Tudo o que faz, ele o faz em nome de Deus (1Rs18,36).
Para os pobres, Elias é o “homem de Deus que fala as palavras de Deus” (1Rs17,24). Para os companheiros, os profetas das comunidades de Betel e Jericó, ele é conhecido como homem sempre disponível. Ele entrou na história como o “homem de fogo, cuja palavra ardia como uma tocha” (Eclo48,1) e como aquele que deve voltar no fim dos tempos para “restabelecer as tribos de Israel” (Eclo48,10) e, assim, “preparar um povo bem organizado para o Senhor” (Lc1,17).
A vida de oração
Elias era sobretudo o inspirador da vida de oração. Ele exorta a se praticar a plenitude do amor divino. A oração de Elias, um homem como nós, foi poderosíssima, por isso, sob este aspecto, se constitui num exemplo completo.
A oração era o espaço que lhe dava condições de:
1) Viver e experimentar o deserto,
2) De descobrir a presença de Deus na Brisa Leve,
3) Defender a aliança.

Eis os lugares e momentos em que Elias aparece orando:
• “Vivo é o Senhor em cuja presença estou” (1Rs17,1; 18,15). É a consciência de estar consagrado ao serviço de Javé.
• ora e consegue de volta a vida do filho da viúva (1Rs17,20).
• Critica a oração dos profetas de Baal (1Rs 18,27), e oração, para que Deus se manifeste ao povo no Monte Horob (1Rs 18,36-37).
• ora sete vezes e insiste, até que pareça o sinal da chuva (1Rs 18,42-43).
• ora para que o fogo desça do céu e mate os militares que querem prendê-lo (2Rs1,10.12).
• Restaura o altar no Monte Carmelo (1Rs18,30).
• ora queixando-se (1Rs19,10.14) e pedindo a morte (1Rs 19,4)
• Confronta-se com Deus na Brisa Leve (1Rs19,12)
A expressão “Brisa Leve” traduz o hebraico: qôl demamáh daqqáh. Literalmente: voz de calmaria suave. A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calamaria, vem de uma raiz, DMH, que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa leve indica algo, um fato, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar; provoca nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar; provoca nela uma expectativa.
Qual foi a “Brisa Leve” de Elias? Foi a descoberta dolorosa de que Javé, o Deus de Israel, já não estava nem no vento, nem no terremoto, nem no raio! (os sinais tradicionais da manifestação de Deus). Deus já não era como Elias imaginava, ele descobriu que, apesar de toda a sua fidelidade e luta pela causa de Javé, ele estava lutando por algo que já não era causa de Javé!
Elias descobriu que estava errado! A “Brisa Leve” é a noite escura da experiência mística; é o sair de si para se encontrar. Ela derrubou tudo e abriu o espaço para uma nova experiência de Deus que, aos poucos, foi penetrando na vida de Elias e o levou a redescobrir sua missão na reconstrução da Aliança.

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