domingo, 24 de janeiro de 2010

O PESO DE UMA VIDA VAZIA 1ª Samuel ;1,1–28


Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana… Tinha ele duas
mulheres: uma se chamava Ana, e a outra, Penina; Penina tinha filhos; Ana, porém, não os tinha (1ª Samuel ;1,1, 2).

Ana era uma simples camponesa, pouco diferente das milhares de mulheres de seu tempo; mas, exteriormente,
ela parecia ter tanto quanto qualquer outra mulher precisava ter para ser feliz e realizada.
O marido de Ana a amava e lhe dava uma vida confortável. A vida espiritual e o culto ao Deus de seus
pais ocupavam um lugar significativo na vida de Ana. Por que, então, ela não se sentia satisfeita?
A vida de Ana estava vazia. Muitos hoje em dia sentem essa mesma falta de serenidade e paz.
Temos bênçãos semelhantes; mas, apesar disso, somos muitas vezes como crianças gananciosas que
indagam: “Só isso?”
Tentamos preencher a vida procurando prazer mental e físico. Podemos passar a vida inteira
procurando sem nunca encontrar significado na vida porque negligenciamos a parte mais importante;
"a parte espiritual."
Como é importante que o cristão se coloque acima dessa busca infrutífera! Não é da vontade de
Deus que os Seus filhos tenham vidas frustradas. Jesus prometeu a cada um de Seus seguidores uma
vida plena, e até abundante (João ;10,10).
Em nossa busca por essa vida abundante, podemos encontrar direção nas lições que Deus ensinou
a Ana. Podemos ver como ela preencheu, com a ajuda de Deus, o vazio que sentia em sua vida. Se Deus
Pai ajudou Ana, por que duvidarmos que Ele possa fazer o mesmo por nós?

As circunstâncias e condições políticas, sociais e religiosas da época de Ana pouco contribuíam
para promover a espiritualidade. Naqueles dias, a adoração e o culto a Deus haviam decaído a um dos
pontos mais baixos de toda a história de Israel. O anteriormente belo tabernáculo, construído no
deserto, mostrava sinais de desgaste. A fé ativa que levara o povo de Israel a tomar posse da sua
herança enfraqueceu com o passar de cada geração. No tempo de Ana em 1ª Samuel; 1, essa fé era quase
inexistente na maior parte de Israel.
O problema que estava diminuindo a qualidade de vida de Ana era profundamente pessoal. Numa
época em que a aptidão de uma mulher para gerar filhos era altamente valorizada, Ana era estéril.
Várias sobrecargas decorriam dessa aflição. Uma delas era econômica. Sem um filho para cuidar
de si no caso da morte do marido, ela poderia passar os últimos anos de vida desamparada financeira
e socialmente. Talvez uma preocupação ainda maior fosse a sua posição na sociedade. Naqueles dias
a esterilidade imputava um estigma. Podemos imaginar como algumas mulheres que conheciam Ana
faziam observações incisivas contra ela. Ana tinha de enfrentar esses olhares e sorrisos maliciosos.
Talvez, houvesse uma angústia ainda mais profunda. Embora ainda primitiva, já havia, naquele tempo,
uma esperança no Messias. Não tendo filhos, Ana não teria possibilidade alguma de ser a mãe do
Messias, ou nem teria esperança de fazer parte
de Sua linhagem. A ausência de um filho tornava
a vida dela uma existência solitária e vazia.
Elcana, seu amado esposo, devia ser um ponto
de luz na vida de Ana. Apesar disso, como geralmente
acontece com os homens, ele não entendia
a gravidade da frustração de Ana. Em vez disso,
ele tentava preencher as necessidades dela com
gestos de bondade. Sempre que separava a
preciosa carne das ofertas pacíficas de todos os
anos levadas a Siló, Elcana dava a Ana duas vezes
mais do que dava às outras pessoas da família.
Ele a incentivava a comer e esquecer a tristeza
(1ª Samuel; 1,4 - 5, 8).
Diferente de certos homens, ele não deixou
de confirmar seu amor. Disse ele: “Não te sou eu
melhor do que dez filhos?” (1ª Samuel; 1,8).
Certamente Elcana considerava seu gesto de
bondade uma prova de seu grande amor por
Ana. Apesar disso, ele não compreendia a profunda
necessidade de Ana. A bondade de Elcana
com a carne e outras dádivas não podia satisfazer
o desejo de Ana por um filho.
Precisamos saber que dádivas físicas não
preenchem necessidades emocionais! Comida,
evasão e prazer só preenchem temporariamente
o vazio da solidão e do medo.
Uma situação doméstica difícil também contribuía
para aumentar o peso que sobrecarregava
Ana. Elcana tinha uma segunda esposa. Naquele
período da história, Deus tolerava a poligamia.
A prosperidade de Elcana o levou a casar-se com
Penina, a qual lhe deu filhos e filhas.
A lei e a cultura dessa época estabeleciam algumas
definições claras do papel de cada esposa
(Deuteronômio; 21,15–17). Apesar disso, surgiu um
conflito inevitável entre as duas esposas. Esse
conflito é bem ilustrado na língua chinesa, que é
escrita através de símbolos. Em chinês, os símbolos
do homem e da mulher colocados juntos resultam
numa combinação que simboliza o casamento.
Os símbolos do homem, da mulher e de uma criança
escritos juntos resultam no símbolo que significa
família. Os símbolos do homem, da mulher e de
outra mulher combinados significam problema!
O profundo amor de Elcana por Ana não fez
Penina parar de expressar desprezo por ela. Penina
a atormentava, fazendo-a lembrar-se de que não
tinha filhos (1ª Samuel; 1,6). Essa zombaria aumentava
o peso da vida já vazia de Ana. Ana convivia com
muitas coisas, mas tinha pouco pelo que viver.
O PREENCHIMENTO
DE UMA VIDA VAZIA
Com tantos problemas, Ana poderia ter
alguma realização na vida? Apesar dos problemas,
ela tinha esperança. Foi para essa
direção que Ana se voltou. Ela encontrou resposta
na casa do Senhor, como fez o salmista em Salmos;
73,16 - 17: “Em só refletir para compreender isso,
achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei
no santuário de Deus e atinei com o fim deles”.
As dificuldades a levaram a encontrar o verdadeiro
significado de entregar-se ao Senhor.
Podemos imaginar a decepção de Ana à medida
que, por repetidas vezes, fracassava em gerar
um filho. Nada na prática rudimentar da medicina
daquela época podia ajudá-la. Com o discernimento
espiritual que possuía, Ana sem dúvida orou
avidamente pedindo um filho. Apesar das orações,
esse desejo do seu coração não foi atendido.
Somente quando ela fez uma entrega total a
Deus, Ele deu uma resposta à sua oração:
Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares
para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares,
e da tua serva te não esqueceres, e lhe
deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos
os dias da sua vida… (1ª Samuel; 1,11).
Finalmente, Ana chegou a uma nova compreensão
de sua necessidade. No passado, seu
desejo por um filho tinha sido mais para satisfazer
o seu propósito de vida. Um filho elevaria a
estima dela aos olhos do marido. Um filho
colocaria um fim nas irritantes zombarias de
Penina e outros. Todavia, esses bons motivos
eram fundamentalmente egoístas.
Ana superou sua humanidade e seu egoísmo.
Ela decidiu que se Deus lhe desse um filho, ele
pertenceria ao Senhor enquanto vivesse.
Nós, também, acabamos ficando impacientes
e atribulados porque não atingimos o nível espiritual
de Ana. Egoísticamente, pensamos que somos
os donos das nossas vidas. Ignoramos a mensagem
da Bíblia de que tudo pertence a Deus por direito
desde a criação (Ageu; 2,8; Salmos; 24,1).
Em nosso egoísmo, geralmente agimos como
certo menino que apertava o nariz contra a vitrine
de uma loja de doces. Vendo aquela cena, um adulto
teve pena do pequeno, entrou na loja e comprou
um saco de doces para ele. O menino encheu a
boca o mais rápido que pôde. Admirado com a
avidez do garoto, o adulto perguntou: “Está bom?”
O menino balançou a cabeça, a boca estava cheia
demais para falar. Então o doador dos doces
falou de novo: “Posso experimentar?” Esvaziando
a boca apenas o suficiente para responder, o
menino disse com irritação: “Não! É meu!”
Às vezes é tentador nos sentirmos nobres e
satisfeitos conosco mesmos por causa das nossas
grandes doações à igreja ou a outras boas causas.
Em vez disso, deveríamos nos humilhar perante
Deus, entendendo que tudo o que estamos dando
a Deus é o que Ele já nos deu.
Podemos encontrar paz quando consagramos
a Deus tudo o que temos, tudo o que somos e
tudo o que podemos ser. Deus nos chama para
amá-lO totalmente (Mateus; 22,36 - 37). Somente
quando Ele tem todo o nosso amor, Ele nos tem
por inteiro.
Precisamos entender que se Deus tira algo de
nós, Ele pode nos dar outra coisa muito melhor
em troca. A entrega de nós mesmos e de tudo o
que temos a Deus nunca nos deixará mais pobres.
Ana conseguiu aprender uma lição excelente
sobre oração. A oração dela exemplifica o princípio
de que Deus é “socorro bem presente nas tribulações”
(Salmos; 46,1). Observemos como a explicação
de Ana é descritiva: “venho derramando a
minha alma perante o Senhor” (1ª Samuel; 1,15).
Ana desvendou os elementos básicos da
oração. Ela reconheceu a soberania e o poder de
Deus. Humildemente, ela se aproximou do Seu
trono. Duas vezes na oração, ela falou de si
mesma como uma serva de Deus. Como serva,
ela sabia que a vontade de Deus devia ser a prioridade
na sua vida. Foi dentro dessa disposição
que ela apresentou o seu pedido. Humildade,
servidão e um coração rendido são alguns dos
elementos mais básicos da oração eficaz.
Será que para assegurar uma resposta à sua
oração Ana negociou com Deus? E nós? Podemos
fazer o mesmo? Podemos conseguir o que
queremos prometendo a Deus algo em troca?
Pensar dessa maneira é entender mal o voto e a
oração de Ana. Ana não fez um negócio com
Deus. Ela pediu a Deus uma dádiva e, a seguir,
prometeu devolver a Ele essa dádiva. Essa oração
não consiste num negócio com Deus por causa
do desprendimento, da abnegação.
Orações como a de Ana só podem advir de uma
total confiança em Deus. Nós também podemos
ser ousados e pedir grandes coisas a Ele. Podemos
hesitar em fazer um pedido a Deus porque nos
sentimos indignos ou incapazes de receber e
usar Sua resposta. Não devemos hesitar. Deus
não só tem o poder de nos dar o que Lhe pedimos,
mas também tem o poder de nos dar a força para
usarmos as Suas dádivas de modo adequado.
Ana tornou-se uma pessoa diferente depois
da sua oração: “Assim, a mulher se foi seu
caminho e comeu, e o seu semblante já não era
triste” (1ª Samuel; 1,18).
O que causou essa diferença em Ana? Ela não
recebeu nenhum sinal miraculoso de que Deus
ouvira e atenderia sua oração. A diferença ocorreu
porque ela assumiu uma atitude diferente.
Ninguém além de nós controla nossas atitudes!
A maioria de nós já ouvimos o conselho: “Se você
agir de modo diferente, se sentirá diferente”. É surpreendente
que, quando tentamos fazer isso, acabamos
descobrindo que isto é verdade. Se optarmos
por agir como Ana, descobriremos que podemos
nos sentir e agir de modo diferente. Nunca espere
se sentir melhor sem agir de modo diferente.
Novas atitudes podem levar a novos sentimentos.
O que fez Ana optar por mudar? A nova
atitude de Ana proveio da fé em Deus. Ela havia
orado e agiu conforme sua fé em Deus. Embora
ela ainda soubesse o que queria, agora ela
confiava o resultado a Deus. Mesmo que Ele não
atendesse ao pedido de um filho, ela conservaria
o mesmo contentamento e a mesma confiança
nEle. Ana poderia aceitar a sua situação, sabendo
que estava vivendo conforme a vontade de Deus.
À medida que um cristão avança na sua jornada
espiritual, a oração torna-se menos parecida com
uma “lista de compras” e mais parecida com um
“cheque em branco”. Devemos estar dispostos a
nos submetermos a Deus e pedir que Ele preencha
o valor. Foi isto o que Ana fez.
O Cumprimento
Fazer um voto não é difícil; para algumas pessoas
fazer promessas é fácil. No fervor de uma experiência
emocional, é fácil se comprometer sem avaliar
o custo. Ana possuía uma qualidade que é vital
para se encontrar significado na vida. Independentemente
do custo pessoal, ela cumpriu a sua promessa.
Será que ela não pensava como nós sempre
pensamos? Não diríamos: “Como posso deixar
meu único filho num lugar onde até os sacerdotes
são maus?” Nossa desculpa poderia ser: “Deus,
eu só tenho um filho e nenhuma promessa de outro.
O Senhor não aceitaria umas ovelhas no lugar
dele?” Para o seu próprio bem, Ana cumpriu a
palavra. Quando o filho, Samuel, foi desmamado,
ela o levou à tenda do Senhor em Siló e disse:
Por este menino orava eu; e o Senhor me
concedeu a petição que eu lhe fizera. Pelo que
também o trago como devolvido ao Senhor,
por todos os dias que viver; pois do Senhor o
pedi… (1ª Samuel; 1,27- 28).
Não devemos ser como certo membro que
telefonou para o líder da igreja numa segunda-feira.
No dia anterior, domingo, os membros da
congregação haviam preenchido fichas com as
propostas de quanto ofertariam no próximo ano.
O ofertante então disse: “Será que a minha
proposta de oferta pode ser relevada? Ontem,
a minha religiosidade foi além das minhas
condições”. Davi falou de como Deus aprova o
homem justo que mantém o seu juramento,
mesmo quando isto lhe gera danos (Salmos; 15,4).
A Recompensa
Alguns anos depois, deve ter sido um momento
emocionante quando a família de Elcana foi até
o tabernáculo. Estavam trazendo o filho que irradiava
as vidas deles, sabendo que ele não voltaria
para casa com eles. Nós que vivemos numa era
materialista, certamente ficamos pensando como
puderam fazer tamanho sacrifício. Só podemos
fazer uma oferta dessa para Deus quando temos
a atitude de Ana: “Por este menino orava eu; e o
Senhor me concedeu a petição que eu lhe fizera.
Pelo que também o trago como devolvido ao
Senhor” (1ª Samuel; 1,27- 28).
Será que Ana perdeu quando devolveu essa
dádiva? Será que a vida dela só foi abençoada
enquanto Samuel esteve com ela? Será que ela
voltou para casa e lamentou a perda do filho?
Claro que não! Ela não pensava que tinha perdido
Samuel. Ela o via toda vez que ia ao tabernáculo.
Apesar do menino estar morando em Siló, ela
podia suprir as necessidades dele (1ª Samuel; 2,19).
Pela Sua graça, o Senhor abençoou Ana com
mais três filhos e duas filhas (1ª Samuel; 2,21).
O que nós damos para Deus com um coração
completamente desprendido nunca é perdido!
Ele tem o poder e está disposto a nos retribuir
com mais do que o que foi renunciado por nós
(Mateus; 10,27–29; Filipenses; 4,19). Ele abençoará
nossa generosa semeadura com uma generosa
colheita. Na Sua graça, Deus não nos abençoa só
na eternidade, Ele nos dá cem vezes mais nesta
vida também (Marcos; 10,30).
Ana foi uma camponesa que viveu séculos
atrás, mas o problema dela — uma vida vazia —
ainda está entre nós. A solução que ela encontrou
— uma entrega total a Deus — é tão viável agora
como foi naquela ocasião.
Alguém certa vez escreveu num muro: “Deus
tem a resposta”. E outro acrescentou: “Tem, mas
qual é a pergunta?” Na verdade, não importa qual
seja a pergunta; a resposta é sempre a mesma: Deus.
A Solução de Problemas para o Cristão
Embora não haja dois problemas pessoais que sejam
iguais porque não há duas pessoas que sejam iguais, há
certos elementos básicos que aparecem praticamente
em todos os casos. Nenhuma pessoa e nenhuma situação
não tem solução. Desde que se creia em Deus, há
esperança. Em Lucas; 18,27, Jesus disse: “Os impossíveis
dos homens são possíveis para Deus”. A solução
básica para todos os problemas pessoais é exatamente
a mesma. amém?

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