segunda-feira, 29 de março de 2010

A Páscoa







Quando Deus chamou a Abraão, lhe fez uma promessa: iria fazer dele uma grande nação, um povo escolhido. Porém, advertiu-lhe de antemão que, antes da concretização dessa promessa os seus descendentes experimentariam muitos anos de sofrimento e escravidão. Mas, Deus informou também que iria abençoar esse povo e livrá-los da escravidão (Gênesis; 15,13-14; Êxodo; 12,41). Abraão se vai, mas Deus ratifica a promessa aos seus descendentes, os patriarcas Isaque e Jacó. Mas, é por meio de José, filho de Jacó e bisneto de Abraão, que a história dessa família vai tomando forma. Ele enfrentou a traição dos irmãos, foi vendido como escravo para o Egito, foi preso, sofreu muito, até que interpretou os sonhos do Faraó, os quais mostravam que haveria sete anos de fartura e sete de fome. Assim, foi elevado à condição de vice-rei com a missão de suprir o mundo de alimentos no período de crise. Foi por conta dele que a família de Jacó foi parar no Egito. Após sua morte, um Faraó que não conhecia a história da sua nação subiu ao trono e começou a oprimir o povo que um dia os salvou. Ele mandou matar todos os meninos recém-nascidos. Deus salva milagrosamente um destes meninos, Moisés, e mais tarde o usa para ser o libertador deste povo. Percebemos que em todo o tempo Deus está na gestão da história, e zela pelos seus, mesmo quando tudo parece perdido. Estava nos planos de Deus libertar Seu povo, Ele já havia prometido! E quando Deus decide agir, nenhum homem ou demônio pode Lhe impedir. Pode até se opor, e neste caso, Deus aproveita para demonstrar o Seu poder, que tem uma dupla função: ensinar ao seu povo preciosas lições enquanto administra juízo sobre seus opositores. Deus já havia enviado nove pragas, agora a última e decisiva estava por vir. Mas Ele não faz nada sem avisar, mesmo a incrédulos, para que tenham oportunidade de arrependimento e não tenham o que argumentar contra a justiça de Deus. Nesta décima praga, morreriam todos os filhos mais velhos (os primogênitos), da casa de Faraó ao mais humilde servo e também dos animais. À meia noite, o “anjo da morte” passaria por todas as casas do Egito. Somente a casa que tivesse aspergido sangue nos umbrais e nas vergas das portas é que seria poupada, e o anjo não entraria para executar a sua missão. Esta “passagem” do anjo (no hebraico ‘pesah’), originou o nome da festa – páscoa. Por não dar crédito aos avisos de Deus é que o incrédulo é punido e castigado. Vale lembrar dos tempos de Noé, e dos dias que antecederão o juízo final.


Deus faz distinção (11,7)
Deus faz distinção entre aqueles que são seu povo e os que não são. Mesmo estando entre os egípcios, o povo de Deus não era egípcio. Mesmo estando no mundo, o povo de Deus não é do mundo (João; 17,17-16). Estão, mas não são; há algo que os diferencia. É igualmente verdade que há muitos que estão na igreja mas não são do reino; estão entre os salvos mas são perdidos; lobos no meio das ovelhas. A bênção de um significa maldição para o outro. A prosperidade de um é o despojo do outro. O livramento de um trás castigo para o outro. O que para um é motivo de adoração para o outro é motivo de blasfêmia. Enquanto um se alegra e celebra, o outro geme e amaldiçoa. Acreditar na palavra de Deus e obedecer suas ordenanças é a marca do povo de Deus, enquanto a incredulidade, a obstinação e a rebeldia é a marca dos que não são. Os que temem ao Senhor são abençoados e protegidos na mesma proporção em que os desobedientes e rebeldes são punidos. Primeiro foi o povo de Deus quem gemeu debaixo da opressão dos seus adversários, e clamava pedindo livramento, a Deus (2,23), e a Faraó (5,15). Agora serão os egípcios quem clamarão e gemerão diante do juízo divino (11,6). Deus ouve o clamor do seu povo. Deus é o vingador do seu povo. Não se pode afrontar seu povo sem que esteja afrontando a Ele próprio. E quando Deus ou seu povo é afrontado, o juízo se torna iminente (1ª Samuel; 17; 2ª Reis; 19; Salmo; 74,10).
O livramento (12,23)
Ao seu povo Deus providencia o escape, a saída, porque zela por ele. O sangue nas vergas e umbrais da porta era o sinal de que naquela casa havia uma família que pertencia a Deus, ouvia sua voz, cria em sua palavra e lhe obedecia, sendo assim, era uma família que estava segura, debaixo da
proteção e da cobertura da graça. A cobertura do sangue não levava em conta os pecados pessoais, mas o fato de que aquelas pessoas estavam em aliança com Deus e pertenciam a Ele. Passar o sangue era um ato de obediência, era um ato que indicava fé. Crer que Deus promete e cumpre. Crer que Ele honraria a sua palavra de proteger aos seus enquanto o juízo era executado. Crer, a ponto de não deixar a proteção do sangue, e não sair de casa, senão pela manhã. A páscoa por si mesma não era a redenção, mas o despertar da redenção, a indicação de que esta se aproximava. O povo de Deus deixaria o Egito como um exército vitorioso, carregando os despojos do inimigo(12,35-36).

Somos enriquecidos com o simbolismo que a páscoa apresenta. Um cordeiro morreu no lugar de um filho na casa de Israel. Uma vida inocente foi sacrificada para que outra pudesse se salvar. Isto aponta para o sacrifício vicário de Cristo, o inocente morrendo no lugar do pecador. A morte de Cristo na cruz seria a vida da humanidade. O cordeiro tinha que ser um macho de um ano, sem defeito, sem mancha, e não poderia ter nem um osso partido (12,46). Não é em vão que o Novo Testamento aponta para Cristo, nosso cordeiro, nossa páscoa, inclusive cumprindo este detalhe (João; 19,36; 1ª Coríntios; 5,7). As ervas amargas serviam para lhes lembrar o amargor da escravidão. A escravidão é algo que deve ser amargamente relembrada. A liberdade é algo precioso. O Espírito de Deus dá liberdade, enquanto as forças das trevas escravizam (João; 8,36; 2ª Coríntios; 3,17). Israel jamais teria se libertado sozinho. Deveriam fazer os pães sem fermento e jogar fora todo o fermento que tivessem em casa. A ausência do fermento indicava pressa (não daria tempo à massa crescer), eles deviam estar preparados e prontos para a liberdade. O fermento, símbolo da corrupção, ensinava que eles precisavam romper com a cultura, a idolatria e os pecados do Egito (Mateus; 16,12; Lucas; 12,1; 1ª Coríntios; 5,6-8). Eles deveriam deixar para trás, abandonar, jogar fora.
A páscoa marcaria para eles o inicio de um novo ano. Seu calendário religioso teria início com a páscoa. Sendo assim, a páscoa marca o começo da vida de Israel como nação e indica nova vida. A páscoa é uma festa histórica que lembra os atos salvíficos de Deus. É uma festa de educação religiosa, que visava instruir as gerações futuras a crerem em Deus, a serem gratos e fieis a quem os libertou, a quem zela por eles, abençoa e protege. A páscoa fazia os judeus relembrarem o maravilhoso livramento que Deus operou ao tirar da terra do Egito os seus antepassados após ter Ele matado os primogênitos dos egípcios. Mas tinha o propósito de servir de sinal daquela muito maior redenção e livramento da servidão ao pecado, que foi realizada por Jesus. A páscoa relembrava aos judeus que a aspersão do sangue, nas vergas das portas das casas de seus antepassados, livrou-os da espada do anjo destruidor. Tinha por objetivo ensinar que o sangue de Cristo, aspergido sobre a consciência do pecador arrependido, purifica-o de toda mácula do pecado e livra o pecador da ira vindoura. A páscoa fazia os judeus rememorarem o fato de que nenhum dos seus antepassados esteve isento de ser destruído pelo anjo, na noite em que ele matou os primogênitos egípcios, a menos que tivessem comido do cordeiro que fora morto. Todos que quiserem receber o benefício eterno da expiação efetuada por Cristo precisam alimentar-se dEle, pela fé, acolhendo-o em seus corações. No início, a páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, sem templo, altar, sacerdote. O chefe da família era o sacerdote. Isto mostra a importância que a família e o lar tem nos planos de Deus. Ele incentiva a celebração e a adoração no lar. Com o tempo, a páscoa passou a ser comemorada no templo, oficializada por um sacerdote profissional, e se tornou mais pública e formal (grupos se reuniam por consentimento, como Jesus e os seus discípulos, como uma família, para celebrar a páscoa). Este fato representa a igreja institucional de hoje em contraposição à igreja menos formal do passado, que se reunia nos lares para celebrar a Deus. O grande ajuntamento do povo de Deus, a grande assembléia, já era uma figura do ajuntamento da igreja. Houve uma guerra espiritual. Os poderes espirituais que estavam por trás dos símbolos adorados seriam derrotados e julgados como os egípcios (12,12). Então, a páscoa foi uma derrota não só para os inimigos humanos do povo de Deus, mas também do inimigo espiritual.
A última páscoa
A páscoa cristã (Lucas; 22,7-23) Um acontecimento tão importante como a páscoa, que deu origem a nação de Israel, não poderia ser ignorada pelo Novo Testamento. Pelo menos cinco idéias estão claramente implícitas e podem ser aplicada aos cristãos. A morte de Cristo ocorreu exatamente no período da páscoa. A páscoa é uma festa exclusivamente judaica, os gentios foram excluídos da comemoração (12,43-49), mas a Ceia substitui a páscoa judaica. Assim, festejamos e relembramos a morte e ressurreição de Cristo. Nossa páscoa se chama Ceia do Senhor, ou como alguns preferem, “santa Ceia”. Houve uma conexão intencional entre o tempo da páscoa judaica e o tempo da morte de Cristo. Não foi por acaso, mas pela determinação providencial de Deus, que nosso Senhor foi crucificado na semana da páscoa e no dia exato em que o cordeiro pascal costumava ser imolado. O intuito disso foi o de chamar a atenção da nação judaica para Aquele que é o verdadeiro cordeiro de Deus. O cristão, tal como os antigos israelitas, devem pôr de lado o fermento do pecado, da corrupção, da malícia, da desobediência, substituindo pelos pães asmos da sinceridade e da verdade (1ª Coríntios; 5,7). A última ceia foi inicialmente uma refeição pascal (João; 18,28; 19,14). Após a refeição pascal, o Senhor instituiu o seu equivalente, ou seu substituto cristão. Ele é a nossa páscoa. Nos celebramos a ceia que relembra Cristo, o nosso cordeiro pascal. A idéia de uma aliança e do início de uma nova nação estão presentes. Cristo fez uma nova aliança e por meio da sua Igreja, dá inicio a uma nova nação, uma nova humanidade, composta de pessoas de todas tribos, línguas e raças, uma nação sem fronteiras. Quanto ao êxodo cristão, certamente que éramos escravos do pecado, mas fomos libertos da escravidão para viver uma nova vida. Cristo é o que nos liberta da escravidão do pecado. Portanto, se o cordeiro assado, os pães sem fermento as ervas amargas eram os símbolos da páscoa do judeu, o pão e o vinho é o símbolo da páscoa do cristão. Quanto aos coelinhos e aos ovos de chocolate, são apenas símbolo de um comércio espertalhão e aproveitador, e de uma religiosidade sincretista. Pense na páscoa sobre a perspectiva dos egípcios. Você acha que este é para eles um dia de festa? Certamente que não! É um dia de luto, de tristeza. Portanto, a páscoa só pode ser comemorada por aquele que pertence a Deus, aquele que lhe obedece, que nele crê. Só estes têm razões para celebrar. Se você pertence a Deus, deve celebrar. Deus quer que seu povo celebre, adore, comemore, festeje. Então, alegria, pois a sua redenção chegou. Celebração continua ajuda na lembrança continua, na ação de graça contínua, caso contrário, corremos o risco de esquecer os grandes atos salvíficos de Deus a nosso favor (1ª Coríntios; 11,23-26). Se você não pertence a Deus, deve se preocupar pois o juízo de Deus é iminente, como pretendes escapar? “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hebreus; 9,27). “Eis que o juiz está à porta” (Tiago; 5,9).
“Bem-aventurados os que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (Apocalipse; 22,14).

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